Indústria naval brasileira está consolidada, diz coordenador do Ipea

O crescimento da indústria naval brasileira em torno de 19,5% ao ano desde 2000, somado a investimentos que alcançam quase R$ 150 bilhões, consolidaram o setor no país. A opinião é do coordenador de Infraestrutura Econômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Campos Neto.

– Esses investimentos significam que a indústria naval está consolidada no país.

Com base em contratos já firmados ou previstos para o desenvolvimento do pré-sal e também sobre as descobertas e perspectivas para águas profundas no Nordeste, Campos Neto disse à Agência Brasil que há demanda para investimentos no setor pelos próximos 25 anos.

– Existe demanda para a indústria naval para os próximos 25 anos – disse.

Segundo Campos Neto e seu parceiro em um estudo sobre o ressurgimento da indústria naval no Brasil, o técnico de Planejamento e Pesquisa, Fabiano Pompermayer, a demanda identificada para esse período está em torno de R$ 220 bilhões.

O estudo do Ipea foi apresentado hoje na Marintec South America – 11ª Navalshore, no Rio de Janeiro. Esse é considerado o principal encontro estratégico para a indústria naval e offshore da América Latina. Ele engloba representantes de mais de 17 países, 380 marcas expositoras e 12 pavilhões internacionais.

Carlos Campos Neto salientou a importância dos investimentos da Petrobras no processo de retomada do setor naval.

– O que fez ressurgir a indústria naval e o que vai sustentá-la pelos próximos 25 anos é fortemente a indústria de petróleo e gás offshore (exploração em alto mar) – comentou.

O estudo mostra que o apogeu da indústria naval brasileira ocorreu na década de 1970, iniciando-se declínio nos anos 80, até quase a extinção do setor, na década seguinte. O economista avaliou que os erros cometidos no passado, entre os quais se destaca a gestão do Fundo de Marinha Mercante (FMM), não serão repetidos.

– Eles não estão sendo cometidos.

Campos Neto salientou que a indústria naval brasileira não será competitiva, porém, em todos os segmentos. Na área da construção de navios petroleiros, por exemplo, o Brasil não vai conseguir concorrer, em termos de preços e custos, com a China ou a Coréia. Por outro lado, o Brasil vai bem na produção de embarcações de apoio, plataformas offshore e navios sonda.

– Nosso nicho de mercado, onde o Brasil tem se estruturado e desenvolvido melhor, é nesses três segmentos, que têm muita tecnologia embarcada. Isso para nós é muito bom.

Setor precisa de um novo modelo de negócios, defendem entidades

O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), a Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav) e a Associação Brasileira de Empresas de Apoio Marítimo (Abeam) defendem a criação de um novo modelo de negócios para que o segmento da indústria atenda a demanda por plataformas de petróleo previstas para os próximos anos. Lideranças das entidades fizeram uma manifestação conjunta durante a Marintec South America – 11ª Navalshore, evento que acontece até esta quinta-feira no Centro de Convenções SulAmerica, no Rio de Janeiro.

– Precisamos de um modelo de negócios que possibilite a construção local de um estoque de cascos de plataformas, em ação integrada entre estaleiros locais e internacionais – disse Ariovaldo Rocha, presidente Sinaval.

Segundo ele, “isto é necessário diante do desafio de atender a demanda futura por 56 novas plataformas até 2030, com grande concentração de entregas até 2025. Uma das soluções são projetos padronizados de sistemas de produção. No Brasil já temos projeto modelo de plataforma que são as replicantes em construção no Rio de Grande do Sul”, acrescentou.

É necessário que os estaleiros assumam uma posição como contratantes líderes que mobilizam sua rede de fornecedores e de sistemas de financiamento para a construção dos diversos elementos, do casco aos grandes sistemas dos módulos de produção. Assim como compreender que a participação na alavancagem ao financiamento da produção é fundamental.

– Além disso, temos o desafio de ampliar a formação de mão-de-obra para atuar nas 380 novas embarcações previstas. Estamos fazendo um trabalho com a Marinha para a formação de oficiais – disse Ronaldo Lima, presidente da Abeam.

A proposta das entidades vem ao encontro as sugestões feitas pelas petroleiras internacionais em evento realizado em Moscou, na Rússia, quando defenderam a urgente necessidade de enfrentar a questão dos custos crescentes.

– Temos no momento um foco na busca pela competitividade. A nossa sustentabilidade só vai acontecer quando isso for concreto. Assim nos tornaremos uma referência internacional – afirmou Augusto Mendonça, presidente da Abenav.

Os modelos de negócios atualmente operantes para fornecimentos de plataformas de produção de petróleo são: Construção total da plataforma no Brasil; Construção parcial no Brasil – integração de módulos em cascos convertidos no mercado internacional; Construção local de cascos com sub-blocos e partes fornecidos por estaleiros internacionais; Contratação de afretamento da plataforma integralmente construída no mercado internacional.

– Existem reuniões e contatos sobre como conduzir soluções para que a construção naval brasileira possa atender da melhor forma possível a Petrobras para cumprir as metas de produção de petróleo. O Sinaval está totalmente empenhado nessa tarefa – concluiu Rocha.

 

Fonte: Monitor Mercantil.

Indústria naval deve faturar US$ 17 bi por ano até 2020

De uma indústria em vias de extinção a um setor que deverá empregar cerca de 100 mil pessoas até 2017 e faturar 17 bilhões de dólares anualmente até 2020, segundo dados das entidades da área. Este é o retrato da década de renascimento da indústria naval brasileira, que saltou de 14 embarcações encomendadas em 2002 para 108 em 2012. O desafio agora, em vez de sobreviver, é alcançar a competitividade no mercado global.O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav), Augusto Mendonça, anunciou que a expansão da produção de petróleo no pré-sal vai repercutir no crescimento da indústria naval brasileira. Segundo o empresário, a produção dobrará para 20%, até 2020, a participação da indústria de petróleo e gás no Produto Interno Bruto (PIB) e levará a indústria naval e offshore (exploração em alto mar) brasileira a faturar em torno de US$ 17 bilhões por ano no período.

Augusto Mendonça afirmou que “a fotografia atual vislumbra um futuro promissor para a indústria naval e para o setor de petróleo no País”. Completou ainda que a garantia de tudo isso é o tamanho da reserva no pré-sal, que, segundo ele, “coloca o Brasil entre as cinco ou seis maiores reservas do mundo”. Ele fez questão de ressaltar que o petróleo responde por cerca de 95% da indústria naval nacional, e a maior parte está relacionada à exploração em alto mar (offshore).

A afirmação do presidente da Abenav está sustentada na perspectiva apontada no Plano de Negócio da Petrobras para os próximos 10 anos. Dentre as obras a serem construídas em estaleiros do País até 2020, estão 38 plataformas de produção, 28 sondas de perfuração marítima, 49 navios-tanque e 568 embarcações de apoio. Ele lembrou que houve investimento no desenvolvimento de profissionais para a indústria naval e offshore.

Competitividade

A indústria naval engloba três segmentos: a fabricação de navios, a fabricação de embarcações de apoio à produção e a construção de plataformas de perfuração e produção. O presidente da Abenav disse que o grande desafio da indústria naval e offshore é a competitividade. “Temos que fazer com que a nossa indústria tenha competitividade internacional”.

De acordo com ele, o volume de encomendas no Brasil é suficiente para desenvolver a indústria em base competitiva. “Ou seja, quando alguém, amanhã, pensar em comprar uma plataforma, com certeza vai querer comprar no Brasil”, ressaltou.

Augusto Mendonça revelou que a carteira atual de encomendas dos estaleiros brasileiros inclui 373 embarcações. Ele destacou ainda a construção, até 2020, de 90 plataformas de produção, que vão entrar em operação até 2025. Isso, segundo ele, significa US$ 120 bilhões. “É um número pequeno de unidades, mas tem valor agregado enorme para o País”, declarou.

No tocante à competitividade no mercado mundial, o coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), Paulo Sergio Rodrigues Alonso, considera que a indústria naval do Brasil alcançará excelência internacional em até dez anos.

“Os benefícios da consolidação de uma indústria naval forte, moderna e produtiva são permanentes. A indústria está avançando e realizando parcerias com sócios internacionais importantes. Dentro de sete a dez anos, o país poderá ter o mesmo grau de excelência dos melhores estaleiros da Coreia do Sul e do Japão desde que sejam superados desafios como a melhoria do planejamento e gestão e da produtividade, a integração das cadeias de suprimento, o investimento em pessoal, a modernização da construção e montagem e o resgate da engenharia industrial” afirmou o executivo, que também é assessor da presidência da Petrobras para Conteúdo Local.

No momento, o setor naval possui 400 projetos com financiamento aprovado, de acordo com o jornal Valor Econômico. O BNDES é o maior financiador. Só de navios da Transpetro são 30 unidades financiadas pelo banco, em recursos do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef 1 e 2). No primeiro semestre deste ano, as operações contratadas pelo BNDES somam R$ 8,02 bilhões para as embarcações da Transpetro, além de R$ 3,41 bilhões destinados aos estaleiros onde serão construídos os navios da empresa.

Na última semana, o presidente da Petrobras Transporte (Transpetro), Sergio Machado, garantiu que não haverá retrocessos. “No passado, quando deu carrapato no boi, ao invés de matar o carrapato, matamos o boi. Isso não vai voltar a acontecer”, afirmou Machado, segundo o portal Petronotícias.

 

Fonte: Portal Vermelho.

Mão de obra qualificada é desafio para o futuro da indústria naval e offshore

Entre as demandas mais urgentes do setor estão os especialistas em posicionamento dinâmico e automação. Seminário discute soluções para escassez de profissionais para o mercado em agosto, no Rio de Janeiro

A especialização de mão de obra e capacitação de recursos humanos estão entre os principais desafios da indústria naval brasileira. De acordo com dados do Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore), com a construção de quatro novos estaleiros, cerca de 30 mil empregos deverão ser gerados nos próximos dois anos e os profissionais do setor precisam estar preparados para as exigências do mercado.

Baixa qualificação técnica, alta rotatividade, salários inflacionados e a recente desaceleração da atividade colocaram em xeque a expectativa de produtividade das empresas do setor de construção naval. Alternativas para este cenário serão debatidas por especialistas do setor conferências que acontecem durante a Marintec South America – 11ª Navalshore, principal evento da indústria naval e offshore da América do Sul, organizado de 12 a 14 de agosto, no Rio de Janeiro.

“A busca por treinamento e qualificação tem crescido muito nos últimos três anos, principalmente em decorrência de incidentes e acidentes, que levaram a um denominador comum: a necessidade de capacitar tecnicamente as tripulação. Quanto mais experiência, menores são as chances de falhas”, explica Cinthya Eliza Lopes Zeballos Dias, gerente de vendas da Kongsberg Maritime Training do Brasil e uma das palestrantes do segundo painel da Marintec Soth America, que acontece no dia 13 de agosto.

Posicionamento dinâmico e automação –  Segundo Cinthya, os treinamentos nas áreas de posicionamento dinâmico e automação, especializações que a indústria naval mais demanda, são os mais procurados na Kongsberg. O especialista em posicionamento dinâmico é capaz de administrar o sistema que controla automaticamente a posição e aproamento de uma embarcação por meio de propulsão ativa, sistemática muito utilizada nas operações off-shore da indústria do Petróleo para posicionamento de navios-tanque, navios de produção e de perfuração e plataformas de petróleo.

“O reflexo dos treinamentos do setor naval é muito positivo, porque representa mais segurança para o profissional, que entende perfeitamente o que está fazendo e evita falhas, gerando diminuição de custos. Cada acidente provocado resulta em aumento de gastos para a empresa. Com o treinamento de pessoal, acidentes e custos diminuem como consequência da segurança e da qualificação”, diz Cinthya.

Soldadores – Outra demanda da indústria referente à mão de obra é sobre os soldadores. O presidente do estaleiro Levefort, Carlos Paggiaro, confirma a dificuldade de encontrar profissionais. “Temos dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. A rotatividade no setor é muito alta, principalmente na área de soldagem. Precisamos buscar profissionais na região”.

A falta de qualificação da mão de obra disponível tem um custo alto para a indústria local e fica evidente quando se compara a produtividade brasileira com a de outros países. Enquanto no Brasil são produzidos 3kg de eletrodos por dia, no Japão, essa é a média produzida em cerca de uma hora. “Os problemas mais comuns são os de execução dos procedimentos corretos de soldagem. Se algum dos requisitos necessários não for atendido na execução (como a temperatura e a velocidade, por exemplo), a falha não pode ser evitada”, diz o engenheiro José Luís Rodrigues da Cunha, especialista no assunto soldagem e que falará no Workshop ABS, que acontece durante a Marintec South America
 
Cunha explica que o mercado experimenta uma retração importante e a rotatividade na profissão é alta. Segundo dados do Centro de Engenharia Naval do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o custo da mão de obra ainda deve continuar elevado porque a balança da oferta e demanda está desequilibrada e inflaciona os salários dos poucos profissionais capacitados. De todos os custos para produzir uma embarcação, por exemplo, 65% corresponde ao gasto com materiais, peças e equipamentos, enquanto 20% corresponde à mão de obra e outros 15% são consumidos por despesas diversas. Na visão do engenheiro, a saída é investir em treinamento teórico e prático. “É fundamental que exista adequação de mão de obra à demanda atual da indústria”.

Sobre a Marintec South America – http://www.marintecsa.com.br

Principal encontro estratégico para a indústria naval e offshore da América Latina, voltado à geração de negócios, tecnologia, melhores práticas e novos produtos e serviços para toda a cadeia do setor, o evento acontece de 12 a 14 de agosto, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro (RJ). São 11 mil m², mais de 380 marcas expositoras, 17 países e 12 pavilhões internacionais. Paralelamente, serão realizadas Conferências, o lançamento do Espaço Inovação e Rodadas de Negócios.
 
Sobre a UBM Brazil – http://www.ubmbrazil.com.br

É uma das maiores empresas do mundo em mídia de negócios. Está presente em 30 países, trabalhando para criar oportunidades de negócios e visibilidade às empresas.

 

Fonte/Autoria.: Tatiana Paiva.

PAINEL NÁUTICO 2014

Químicos aplicados nos setores Naval e Petróleo & Gás

No dia 11 de agosto de 2014, no Everest Rio Hotel, no Rio de Janeiro, será realizada a quarta edição do Painel Multissetorial Naval, Náutico e Petróleo & Gás, um seminário técnico que tem como objetivo mostrar que os plásticos de performance diferenciada (composites, poliuretano e plástico de engenharia) são excelentes materiais para serem aplicados nas construções para este setor

O tema abordado pela empresa GNV Rocol, do Grupo ITW, será ”Químicos aplicados nos setores Naval e Petróleo & Gás”. O palestrante será Vilson Lopes.

O evento é gratuito, e dirigido exclusivamente para os profissionais das áreas de projeto, fabricação de embarcações, profissionais diversos ligados ao desenvolvimento desta indústria, manufatura e manutenção naval, pesquisadores, universidades, empresas de produção de petróleo (Petrobras e internacionais), os consórcios responsáveis pelas obras, as construtoras de obras de grande porte, os fabricantes de produtos, Governo e órgãos correlatos (exceto fornecedores de matérias primas).

Faça sua inscrição GRATUITA para o evento deste ano.

BRASIL PRECISA REDUZIR CUSTOS

Como todos sabem, a construção naval tem passado por ciclos de progresso, infelizmente entrecortados por períodos sombrios. Isso ocorre, em uma análise genérica, por insensibilidade de governos. Não é segredo que o setor tem dependência direta das autoridades públicas, pois qualquer alteração na política de importação – como ocorreu na década de 1980 – ou desvio de recursos do Fundo de Marinha Mercante (FMM) – como se registrou no Governo Fernando Henrique Cardoso – impacta os estaleiros. Desde 2003, no primeiro Governo Lula, o setor voltou a brilhar.

As razões do êxito são muitas, como a política de conteúdo local, pela qual navios e plataformas não são encomendados na China ou Coréia, mas no Rio, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Além disso, não só o FMM foi mantido intocado – sem transferência de seus recursos para pagamento de juros da dívida interna – como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda fez aportes adicionais para financiar obras necessárias. Esse dinheiro, é claro, vai voltar aos cofres públicos.

O resultado está à vista de todos: uma produção que cresce bem acima da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e contratação de mão-de-obra direta em torno de 80 mil pessoas – com perspectiva de chegar a 100 mil em meados do próximo ano. Velhos estaleiros foram reativados e, entre outros, estão em fase de implantação três grandes projetos: Jurong, no Espírito Santo; Wilson, Sons, no Rio Grande do Sul e Enseada de Paraguaçu, na Bahia.

Com o pré-sal – e a definição do governo por encomendas no mercado interno – as perspectivas se revelam fantásticas, com obras de US$ 100 bilhões para as próximas décadas. Se houver mudança de governo, nas próximas eleições, espera-se que não se perca o bom senso e que contratos que geram empregos para brasileiros não sejam, como ocorria antes, transferidos para a Ásia.

Desde que a construção naval ressurgiu, o Sinaval bate em uma tecla importante. A de frisar que os custos nacionais precisam diminuir, para que a indústria se imponha por sua própria competitividade, se possível, exportando, para marcar definitivamente sua capacidade de concorrer com o resto do mundo. Há que se levantar exceção em relação a países asiáticos, que lançam mão de subsídios, abertos e ocultos, e de política cambial direcionada para lhes dar uma competitividade excessiva. A construção naval brasileira, no entanto, sabe que, para o futuro, depende de crescente eficiência para seguir à frente com suas próprias pernas, dependendo dos governos apenas em relação a mercado e crédito.

No entanto, o Custo Brasil, como um todo, é um enorme desafio para governos e sociedade. O presidente da Câmara Naval e Offshore da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Campos, admitiu que é difícil fornecer peças e equipamentos nacionais para os estaleiros. Disse ele, em depoimento aos organizadores da feira marítima Marintec/Navalshore, que será realizada nos próximos dias, no Rio de Janeiro:

“O Brasil tem a mais alta carga tributária do mundo. Torna-se muito difícil competir com o fabricante internacional, principalmente porque os estaleiros precisam comprar pelo menor preço possível. O custo unitário dos produtos fabricados no país não é baixo e o resultado é a falta de investimentos nessa indústria uma vez que os fabricantes nacionais não têm garantia de demanda a médio e longo prazos.”

Disse ainda: “A solução está nos investimentos em capacitação e em uma agenda comum entre governo, indústria e estaleiros, de forma a direcionar políticas sustentáveis para o setor, em benefício de toda a cadeia produtiva, pós pedidos do pré-sal.”

Eis a questão: a construção naval não quer viver de ciclos, mas se perenizar, tornando permanentes e seguros os benefícios que oferece à sociedade. Mas, como bem frisa o setor de navipeças, o país precisa cortar seus custos, de ponta a ponta: dos serviços telefônicos ao preço do aço e de exigências ditas ambientais ao custo da energia elétrica. Isso não é tarefa de um governo, mas um dia tem de ser iniciada, para que navios, carros, navipeças, televisores e tudo mais, acompanhados de uma política cambial consistente, permitam ao país competir e fortalecer sua indústria.

Em relação a impedimentos noticiados nos estaleiros Eisa (RJ) e Iesa Óleo e Gás (RS), são problemas localizados, causados por temas específicos e que deverão ser resolvidos de forma positiva. Não se trata de qualquer disfunção geral e igualmente não representa qualquer ruptura com o maior cliente do setor, Petrobras/Transpetro, uma vez que a estatal mantém sua confiança e seus compromissos com o setor e o Brasil.

Fonte: Ariovaldo Rocha/ Monitor Digital.

Sem novos pedidos, crédito a estaleiros pode ficar restrito

Empresários da construção naval estão preocupados com a possibilidade de uma eventual mudança na política de conteúdo nacional do setor uma vez que a Petrobras tem pressa no desenvolvimento de novos campos de petróleo no pré-sal. A companhia, segundo pessoas do setor, tem dado sinais seguidos de que pode colocar mais encomendas no exterior. “Já era, desde 2013, para ter mais encomendas da Petrobras para o setor, o que não tem se confirmado e preocupa, sobretudo em relação ao futuro, à continuidade da indústria”, disse um executivo.

Em nota, a estatal negou que haja esse risco: “A Petrobras destaca que possui uma carteira de empreendimentos que irá garantir a demanda dos estaleiros nacionais para os próximos anos. A Petrobras entende como diferencial possuir uma indústria fornecedora capacitada e competitiva próxima às suas operações.” A empresa também informou que vai continuar a demandar a indústria naval nacional com “exigência de conteúdo local”.

O receio do estaleiros é que a falta de perspectivas de novas encomendas leve o sistema financeiro a restringir o crédito. Uma das principais fontes de financiamento para o setor é o Fundo da Marinha Mercante (FMM). Mas os estaleiros dependem também de capital de giro: “Já está havendo perda de capital de giro no nosso segmento”, disse uma fonte.

O Estaleiro Rio Grande (ERG, controlado pela Engevix Construções Oceânicas (Ecovix), passa por momento de desafios. A Ecovix tem 30% de seu capital em mãos de consórcio japonês com participação da Mitsubishi Heavy Industries (MHI). No total, o ERG tem contrato de US$ 3,5 bilhões para construir para a Petrobras oito cascos de plataformas. Essas plataformas (P-66 até P-73) serão instaladas nas áreas de Lula e Iara, no pré-sal da Bacia de Santos.

O atraso de mais de um ano na construção da P-55, feita no ERG por outra empresa, levou a Ecovix a ter que recuperar prazos. E uma maneira de fazer isso foi “importar” mais serviços do exterior. A P-66 está em fase final de montagem em Rio Grande. Mas parte do casco da P-67, que está no ERG sendo montada, foi feita no estaleiro da Cosco, na China. A P-68 também terá parte do casco feita pelos chineses. Os módulos de acomodação e os de geração de energia para as oito plataformas também foram encomendados na China. A previsão é que a última das plataformas seja entregue no fim de 2016, com atraso sobre o cronograma original.

A Petrobras afirmou: “Em alguns dos projetos, a fim de garantir o cumprimento dos prazos acordados com a Petrobras, as empresas fornecedoras podem alterar a estratégia de condução das obras, inclusive com a subcontratação de produtos ou serviços no exterior, desde que devidamente acordado e autorizado pela Petrobras. Porém, essas alterações não implicam no descumprimento dos índices de conteúdo local acordados com a ANP [Agência Nacional do Petróleo], uma vez que grande parte dos serviços será executada nos estaleiros nacionais.” A estatal não foi clara sobre a possibilidade de colocar novos serviços na China, a partir de 2014: “Eventuais transferências adicionais de escopo são analisadas, caso a caso, pela Petrobras, considerando os índices de conteúdo local e as datas de primeiro óleo estabelecidas no plano de negócios da companhia.”

O ERG tem também contratos de US$ 2,4 bilhões para construir três sondas de perfuração encomendadas pela empresa Sete Brasil e que vão operar para a Petrobras. Uma parte do casco de uma das sondas está sendo feito na China. Já o Estaleiro Enseada Indústria Naval, em construção em Maragojipe (BA), está fazendo o primeiro casco das seis sondas que vai construir para a Sete Brasil no estaleiro da Kawasaki, no Japão.

O Enseada, controlado por Odebrecht, OAS e UTC, além da própria Kawasaki, que tem 30% do negócio, arrendou canteiro de obras existente ao lado do estaleiro onde está construindo módulos para a primeira sonda, batizada de Ondina. O contrato do Enseada para a construção das seis sondas soma US$ 4,8 bilhões. Parte do casco da segunda sonda também será feita no Japão, mas a partir da terceira unidade a expectativa é que os serviços sejam executados no Brasil. Para compensar a “importação” do Japão, o Enseada encomendou no Brasil itens que pretendia fazer no exterior, como o módulo de acomodação da primeira sonda.

A Petrobras afirmou: “A estratégia original [do Enseada] já contemplava que as frentes de obras de construção do estaleiro iriam conviver em paralelo com as obras de construção das sondas. Atualmente as obras de construção do estaleiro encontram-se com avanço superior a 75%.”

Outro contrato do Enseada, a conversão de quatro cascos da cessão onerosa (P-74, P-75, P-76 e P-77) para a Petrobras, enfrentou desafio semelhante. Para três deles, há serviços sendo feitos no estaleiro da Cosco, na China. A Petrobras reconheceu que foi preciso mudar os trabalhos: “A alteração no planejamento inicial se deu por força dos serviços de revitalização do estaleiro Inhaúma [no Rio], em função da recuperação dos dois cais e da ocupação do dique seco [do estaleiro] pela P-74. Os prazos dos projetos estão mantidos.”

A estatal afirmou que as fases de engenharia e suprimento das três sondas do ERG estão em estágio avançado e já existem contratos com os fornecedores “críticos”. As atividades de construção das sondas do ERG estão em fase inicial. A companhia acrescentou: “É responsabilidade da Ecovix a definição da estratégia de condução e subcontratação do escopo, respeitando os conteúdos locais contratuais estabelecidos que, no caso das três sondas, situa-se na faixa de 55% a 60%.” A Petrobras disse acreditar que os investimentos nos estaleiros ainda precisam de tempo para mostrar resultados.

Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e Cláudia Schüffner | Do Rio.

A construção naval não pode parar

Historicamente, a construção naval viveu em ciclos. Há mais de 100 anos, estaleiros como Mauá, Caneco e a Costeira – esta última misto de armador e construtor – brilhavam. Em seguida, vieram décadas de pouco trabalho. O grande presidente Juscelino Kubitschek, atento à importância estratégica da atividade, criou o Grupo Executivo da Construção Naval (Geicon) e o Fundo de Marinha Mercante (FMM), mas o pleno ressurgimento só se deu nas décadas de 70 e 80.

Nesse período, chegou-se ao quarto lugar no mundo e aqui – com nova safra de estaleiros – foram produzidos navios de 313 mil toneladas, os maiores já fabricados no Hemisfério Sul. Em seguida, voltaram as teias de aranha a essas unidades fabris – com o agravante de que o setor é intensivo de mão de obra.

Em 2003, iniciou-se outro ciclo de ouro, graças ao trinômio crédito, demanda e condições técnicas. O Fundo de Marinha Mercante (FMM) não só teve suas dotações preservadas – que não vêm do orçamento, mas de captação sobre importações – como ganhou repasses do Ministério da Fazenda, sob o comando de Guido Mantega.

A capacidade técnica sempre existiu, mas as mudanças tecnológicas obrigaram à obtenção de tecnologia no exterior – muitas vezes acompanhada de capital. Quanto à demanda, está concentrada em óleo e gás, com destaque para a Petrobras. Graças ao convencimento dos governos, de lá para cá, navios-sonda, plataformas, petroleiros e barcos de apoio são construídos no Brasil.

Muitos falam nos males do conteúdo local, como preço mais alto e reserva de mercado. Mas essa política também tem seus benefícios, como o fortalecimento de empresas instaladas no país – tanto estaleiros como indústria subsidiária. No momento são gerados 80 mil empregos diretos, devendo-se atingir a emblemática marca de 100 mil em meados de 2015.

A questão foi muito bem colocada, em recente palestra, pelo assessor da presidente da Petrobras, Graça Foster, para conteúdo local e coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), Paulo Sergio Rodrigues Alonso. Ele ressaltou que essa diretriz não deve gerar protecionismo, mas incentivo.

Acentuou Paulo Alonso: “O poder de compra de uma grande companhia nacional de petróleo, a exemplo da Petrobras, é um poderoso instrumento para o desenvolvimento local, de fabricantes e de prestadores de serviços. Um plano amplo deve ser concebido para criar uma massa crítica de engenheiros, administradores e técnicos para alimentar a indústria de petróleo e gás em uma base sustentável”, disse. Ele citou como exemplo o Prominp, que desde 2006 qualificou mais de 95 mil pessoas no Brasil, a exemplo de soldadores, mecânicos, eletricistas, administradores, técnicos de automação e controle e engenheiros para trabalhar na indústria do petróleo.

Em breve, o Sinaval irá distribuir um documento aos presidenciáveis, mostrando o que foi feito de 2003 para cá. Se outros partidos, em outros momentos, adotaram políticas diversas, isso não se aplicaria, agora. O Brasil tem à sua frente uma riqueza de trilhões de dólares, o pré-sal. Dificilmente algum governante iria abrir mão de manter os benefícios gerados por essa benção da natureza no país. Será mostrado aos candidatos que hoje, o Brasil conta com uma construção naval forte, eficiente e bem distribuída por todo o território nacional. Os milhares de empregos vêm com carteira assinada, vale-refeição, plano de saúde e outros benefícios.

No passado, o setor viveu em altos e baixos. O que se espera é que, agora, como no Reino Unido e na Noruega, a indústria do petróleo gere não só a produção de equipamentos, mas implique a formação de centros de alta tecnologia. Reino Unido e Noruega não têm mais tanto petróleo, mas continuam a exportar tecnologia, produtos e serviços de óleo, gás e construção naval para todo o planeta. Não teria o Brasil o mesmo direito?

Assim, o presidenciável que assumir em janeiro encontrará uma indústria forte, buscando cada dia mais competitividade, para não só suprir o mercado interno como um dia voltar a exportar, gerando divisas para a nação, em vez de dívidas. Graças ao FMM, de JK, os estaleiros são competitivos ante Estados Unidos, Europa e Japão e apenas não podem concorrer com os preços da China, pois nenhum economista ocidental sabe como são formados os preços por lá. Também não há imprensa livre para mostrar problemas ecológicos e trabalhistas.

Portanto, nossa aposta e torcida é a de que, em vez de uma gangorra, a construção naval mantenha sua trajetória ascendente, em 2015, pois, antes de adotar julgamentos apressados, todo mandatário tem de pensar na grandeza de seus país e na felicidade dos filhos desta terra.

Fonte: Ariovaldo Rocha, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval e Offshore (Sinaval). – Monitor Mercantil